Auto da Índia

Duas matrafonas sobre andas manipulam literalmente as personagens masculinas retratadas por marionetas

auto india cartaz

Cartaz de Diogo Vaz Cavaleiro, 
ao modo das xilogravuras do séc. XVI

Nesta primeira farsa portuguesa de 1509, justamente de leitura recomendada para o 9º ano, Gil Vicente satiriza a perturbação dos costumes e a sangria de homens válidos causadas pela miragem de enriquecimento fácil no Oriente. Sendo do teatro, em vez de se explicar, cria uma situação. Retrata uma mulher deixada pelo marido com casa posta e rédea solta nos três anos da torna-viagem à Índia. Esperta e viçosa, ajuda-se da sua criada para se divertir jogando entre amantes. Quando o marido regressa de uma viagem árdua e de pura perda, manobra-o com igual desenvoltura. Para Gil Vicente, tradicionalista, esta mulher em posição dominante epitomiza um novo «mundo às avessas». Ironicamente chama-lhe Constança.

Por outro lado, as sucessivas leis sumptuárias que tentaram refrear o gosto ruinoso pelo luxo e ostentação – alvo frequente da sátira vicentina – acabaram por regulamentar e definir, desde os tecidos às cores, o que uma pessoa podia vestir em conformidade com a sua classe social, profissão, sexo, etc. O hábito fazia o monge!

É sobre estes aspectos que assenta a dramaturgia desta encenação, que conjuga uma leitura fiel do texto com diversas técnicas de manipulação – dos robertos às marionetas de varão do tipo dos bonecos de Santo Aleixo – e com outros elementos entretanto enraizados na tradição como os gigantones, as matrafonas carnavalescas e a guitarra portuguesa, recuperando um espirito vicentino desempoeirado, audaz e divertido, capaz de cativar estudantes, eruditos e o público em geral. Estreado em Abril de 2018, já foi apresentado no  Palácio Nacional de Sintra, no Festival Marionetas na Cidade em Alcobaça, no Museu do Circo na Lousã, no Teatro da Comuna, no AvanTeatro-Festa do Avante e diversos festivais, tendo sido objecto também de um documentário na RTP África.     

 

José Henrique Neto

 

EQUIPA

Dramaturgia e Encenação: José Henrique Neto
Construção de marionetas e Cartaz: Diogo Vaz Cavaleiro
Música Original: João Lima e J.H. Neto
Execução musical ao vivo: Ricardo Quinteira
Interpretação e Manipulação: Diogo Vaz Cavaleiro & José Henrique Neto
Técnica: Luís Ratinho
Figurinos: das marionetas por J.H. Neto; vestidos de Constança e Moça por Virginia Rico, restaurados por J.H.Neto.

Fotos: Rodrigo Grilo, Palácio da Independência, Lisboa 2018

Rider Técnico

Esta encenação do Auto da Índia pode ser apresentada como espectáculo de espaço aberto, de sala ou de palco. O gigantismo das figuras dispensa cenário.
Porque os dois actores bonecreiros em cena manipulam as marionetas elevados por andas, quando em espaço interior, a sala deve ter pé-direito mínimo de 3,5 metros.

Área de representação livre de público: 4m x 4 m .
Disposição do público:  em três frentes ou anfiteatro.
Equipa: 2 actores/manipuladores, 1 técnico e 1 músico.
Duração do espectáculo:  cerca de 45 minutos
Som e luz:
Existindo boa iluminação e boa acústica naturais, não necessita de requisitos adicionais. Apenas duas tomadas para o equipamento de som. Para sala fechada, podemos enviar um plano de luz.